quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Sobre nossa prosa com o menino do museu


O Menino Malino chega em Santo André... a internet faiô, e a oralidade prevaleceu... 

Com todo afeto planejamos nossa sonhada Live com Pedro, o Menino do Museu. Queríamos que todos o conhecessem, porque conhecer Pedro é conhecer a si, o povo brasileiro e sua teimosia. Na hora da Live, a internet do Crato não funcionou, ligamos para Pedro e a participação dele foi por telefone. Ainda que o áudio tenha falhado em alguns momentos, a conversa perdurou por mais de uma hora...

Pedro nos encanta não só porque criou o Museu Luiz Gonzaga aos 8 anos de idade, mas porque teima em colocar na centralidade da sua vida, a beleza da cultura do povo nordestino. Pedro traz Luiz, Pedro respeita Januário, Pedro tem a asa branca e a asa solta...

"Furaro o zóio do assum preto pra ele canta mió..." (Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira, 1950)

O financiamento público não chega, o Estado fura o "zóio" continuamente do povo.  É uma chuva de faltas e uma chuva de sobras. Falta democracia, falta afeto, sobra competição e loucura por consumo, mas ele, o menino malino, ainda com essa "furadera de zóio" perene, canta, canta bonito e alto e seu canto chega em Santo André na prosa que coloca a cultura no seu lugar de centralidade, no seu lugar de dimensão simbólica.

O Velho Lua, o sanfoneiro  Gonzaga de Exu,  vai fazer 108 anos, a saudade é tamanha e o menino do Crato é puro encantamento, carrega consigo as ideias de mil Gonzagas. Gestor  cultural potente, sabido, fala como rei , fala de gestão, tem na cabeça o valor maior do afeto que deve reger nossas relações.

Enquanto as instituições vultosas e elitizadas  tem privilégios e são mantidas com leis de incentivo e  pagamentos de entrada, as ações de base comunitária e pequenos espaços ficam a mercê do tempo. O menino do museu é um desses gestores de uma pequena grande ação de valor simbólico que guarda a memória de um dos  maiores artistas brasileiro que é Luiz Gonzaga. Proseamos com o esse gestor cultural de 15 anos que sonhou com o museu do rei. Fica essa  narrativa e esse imaginário de cultura do povo pra lembrar que no fundo,  o sertanejo é um forte,  de uma sapiência única, sagaz e o menino Pedro é o futuro de tudo isso que chamamos de cultura.

Nossa live foi na oralidade, a prosa persistiu, a internet ainda não chega em todo mundo. Estamos aqui pensando como vida de viajante, quase assum preto, lembrando Gonzaguinha, lembrando de nossos ancestrais, daqueles que pegam na pedra e sabem o valor do peso de carregar a herança nordestina. Lembramos  dos cordéis até chegar na lei Aldir Blanc. Estamos ajudando no controle social na cidade do Crato.  Ainda é pouco. Estamos fora da gaiola e furam nosso "zóio", mas a gente canta e a gente quer  mais ainda! Temos que reconhecer o povo, porque sem o povo não existe cultura, Somos  MASSA, somos restos de estrelas depois da explosão.

 


Texto coletivo pensado na simbologia da cultura MASSA, por Isabel Rodrigues e por Neri Silvestre

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