Dalila Teles Veras
“Sacilotto é a melhor expressão da revolta
suburbana. A revolta da lucidez dos que podem ver e plasmar a sobrecoisa que há
na coisa, como nessa escultura de esquina que espera os passantes que não a
esperam, mas com ela se incomodam (...) Seu ruidoso silêncio convida o homem
comum à dúvida”
No último dia 06 de junho, durante a
leitura pública de trechos do novo livro de José de Souza Martins, “O Coração
da Pauliceia Ainda Bate” (Editora UNESP/Imprensa Oficial, 2017), na Livraria
Alpharrabio, o Professor Emérito da USP, nascido em São Caetano do Sul, e desde
sempre atento à memória de nossa região, incluiu a leitura da crônica,
denominada simplesmente “Sacilotto”. No debate que se deu a seguir, a obra
Concreção 005 e sua longa e desastrada história foi um dos assuntos levantados
pela plateia, com a denúncia de seu atual estado de degradação. Lembrou-se ali da criminosa ação lesa-pátria do poder público que, sem
qualquer justificativa plausível, em 2013, retirou a obra de seu local de
origem (calçadão da Rua Oliveira Lima com Monte Casseros) e, após dois anos de
muitos protestos e movimentação populares, a recolocou, mas deslocada do local
anterior e de maneira inadequada, rente ao chão, sobre um círculo de granito,
contrariando completamente a forma original e o local concebido pelo
autor. Naquele momento foi sugerida e
aprovada por todos os presentes a retomada do movimento “Cadê?”, com o
encaminhamento de um ofício ao atual Prefeito da cidade de Santo André apelando
para que o conjunto de erros seja reparado e a escultura volte ao seu local de
origem e em sua forma original.
Eis que, por um desses quase “milagres”,
leio no Diário do Grande ABC do dia seguinte (07.06) a notícia sobre a
“recuperação e retorno da escultura ao seu local de origem e na sua forma
original”. Viva!
Interessante sublinhar que o senhor Paulo
Serra, atual prefeito de Santo André que ora anuncia o desejo de reparar o erro
no qual houve tanto gasto e desgaste inúteis, era Secretário Municipal de Obras
à época, esteve à frente daquela inexplicável e desastrosa ação, pela qual,
inclusive, responsabilizou-se publicamente. Hoje, há um detalhe que faz toda a
diferença nesse cenário: a Secretaria de Cultura é comandada por quem entende
do riscado, conhece a cidade, tem a prática e sensibilidade para ouvir, bem
como bagagem acumulada para discernir ações. Isso, certamente, pesou nessa
tomada de decisão.
Assim, pela primeira em minha longa
história de ativismo cultural não cumprirei um encargo, ou seja, o que me foi
atribuído na reunião citada, ou seja, redigir um ofício, assinado
coletivamente, para reiniciar um movimento popular. Como raras vezes acontece,
o poder público agiu antes. Cumprimentos à Secretária de Cultural, Simone
Zárate por ter lembrado que a escultura é parte integrante daquele lugar, em
sincronia com os anseios da comunidade.
Encerro com a palavra do Professor
Martins, na já citada crônica, que reforça o quanto a arte é importante nesta
nossa história que é a história do trabalho:
“Nas suas concreções, a linha reta se move,
ondula, vive, é polissêmica, em rebeldia contra a unicidade da retidão linear.
E desdiz o aparente, ao desvelar a poesia que há no trabalho”.
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