quarta-feira, 14 de junho de 2017

SACILOTTO – crônica e escultura



Dalila Teles Veras

“Sacilotto é a melhor expressão da revolta suburbana. A revolta da lucidez dos que podem ver e plasmar a sobrecoisa que há na coisa, como nessa escultura de esquina que espera os passantes que não a esperam, mas com ela se incomodam (...) Seu ruidoso silêncio convida o homem comum à dúvida”


No último dia 06 de junho, durante a leitura pública de trechos do novo livro de José de Souza Martins, “O Coração da Pauliceia Ainda Bate” (Editora UNESP/Imprensa Oficial, 2017), na Livraria Alpharrabio, o Professor Emérito da USP, nascido em São Caetano do Sul, e desde sempre atento à memória de nossa região, incluiu a leitura da crônica, denominada simplesmente “Sacilotto”. No debate que se deu a seguir, a obra Concreção 005 e sua longa e desastrada história foi um dos assuntos levantados pela plateia, com a denúncia de seu atual estado de degradação. Lembrou-se  ali da criminosa ação  lesa-pátria do poder público que, sem qualquer justificativa plausível, em 2013, retirou a obra de seu local de origem (calçadão da Rua Oliveira Lima com Monte Casseros) e, após dois anos de muitos protestos e movimentação populares, a recolocou, mas deslocada do local anterior e de maneira inadequada, rente ao chão, sobre um círculo de granito, contrariando completamente a forma original e o local concebido pelo autor.  Naquele momento foi sugerida e aprovada por todos os presentes a retomada do movimento “Cadê?”, com o encaminhamento de um ofício ao atual Prefeito da cidade de Santo André apelando para que o conjunto de erros seja reparado e a escultura volte ao seu local de origem e em sua forma original.



Eis que, por um desses quase “milagres”, leio no Diário do Grande ABC do dia seguinte (07.06) a notícia sobre a “recuperação e retorno da escultura ao seu local de origem e na sua forma original”. Viva!
Interessante sublinhar que o senhor Paulo Serra, atual prefeito de Santo André que ora anuncia o desejo de reparar o erro no qual houve tanto gasto e desgaste inúteis, era Secretário Municipal de Obras à época, esteve à frente daquela inexplicável e desastrosa ação, pela qual, inclusive, responsabilizou-se publicamente. Hoje, há um detalhe que faz toda a diferença nesse cenário: a Secretaria de Cultura é comandada por quem entende do riscado, conhece a cidade, tem a prática e sensibilidade para ouvir, bem como bagagem acumulada para discernir ações. Isso, certamente, pesou nessa tomada de decisão.
Assim, pela primeira em minha longa história de ativismo cultural não cumprirei um encargo, ou seja, o que me foi atribuído na reunião citada, ou seja, redigir um ofício, assinado coletivamente, para reiniciar um movimento popular. Como raras vezes acontece, o poder público agiu antes. Cumprimentos à Secretária de Cultural, Simone Zárate por ter lembrado que a escultura é parte integrante daquele lugar, em sincronia com os anseios da comunidade.
Encerro com a palavra do Professor Martins, na já citada crônica, que reforça o quanto a arte é importante nesta nossa história que é a história do trabalho:
 “Nas suas concreções, a linha reta se move, ondula, vive, é polissêmica, em rebeldia contra a unicidade da retidão linear. E desdiz o aparente, ao desvelar a poesia que há no trabalho”. 

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