Dalila Teles Veras
A reunião mensal do Fórum Permanente de Debates Culturais do
Grande ABC, do mês de fevereiro último, teve como pauta principal a discussão
denominada “Batalha da Matrix – Cultura, Juventude e Direitos Humanos”.
Como convidado especial para discorrer sobre o tema, ouvimos
o advogado Ariel de Castro Alves coordenador Estadual do Movimento Nacional de
Direitos Humanos que esteve muito tempo à Frente da Fundação Criança em SBC,
responsável por acionar a Ouvidora Pública do Estado de São Paulo para instalar
inquérito no sentido de apurar as irregularidades de uma desastrosa e violenta
ação policial (policiais militares e municipais) ocorrida no dia 26 de janeiro
deste ano durante a Batalha da Matrix, evento semanal que reúne centenas de
jovens para “batalha de rap” na Praça da Matriz em São Bernardo do Campo.
Desde o início daquela atividade, o Fórum vem ouvindo jovens
representantes da Batalha da Matrix que relataram a dificuldade de diálogo com
a Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo no sentido de encontrar uma
solução para essa manifestação de jovens em espaço público.
Como convidados, também contamos com a presença de Marcelo
Dino Fraccaro, Diretor do Departamento de Ação Artística e Cultural e Fernando
Borgomoni, Diretor do Departamento de bibliotecas Publicas e Preservação da
Memória, ambos da Prefeitura Munciipal de SBC.
Antes de passar a palavra ao convidado Ariel de Castro
Alves, Dalila Teles Veras informou que foram convidados os jovens Cario César
Lopes e Lucas, ambos da Batalha da Matrix, mas que, horas antes da reunião
informaram terem sido convidados à última hora para uma reunião no gabinete do
Prefeito de SBC, em horário coincidente com o da reunião do Fórum. Essa reunião
com o Prefeito havia sido adiada sem data e só hoje foi confirmada à última
hora.
Ariel iniciou sua fala discorrendo sobre fenômenos recentes
de protagonismo juvenil como a Ocupação das Escolas e o Passe Livre, pautas que
foram tomadas pelos segmentos sociais e que ganharam força justamente pelo
protagonismo dos jovens. Não é diferente dos que acontece com os jovens da
Batalha da Matrix que querem atividades protagonizadas por eles que já
demonstraram possuir um protagonismo importante. Disse compreender que o poder
público também recebe pressões, mas que no dia 26 de janeiro a PM extrapolou,
usando balas de borracha, ação que está proibida desde 2013, sendo que a
Corregedoria da PM instaurou inquérito a respeito. Os chamados “rolezinhos” nos
Shopping, ocorrências nas quais Ariel entreviu, com o argumento de que “todos
são iguais perante a lei”. A Prefeitura de SP fez um trabalho importante que
acabou minimizando esses problemas permitindo atividades dos jovens nos
estacionamentos.
Ariel: “quando dei os exemplos dos outros movimentos, quis
dizer que todos são anárquicos e não personalistas. Eles sempre consultam seus
pares. A minha preocupação, como defensor dos Direitos Humanos, é a de que não
podemos aceitar que essa função seja alvo de uma intervenção violenta, com gás
lacrimogêneo e com a própria Prefeitura assumindo na imprensa ter chamado a
tropa de choque que se portou como o Governo Alckimin que tanto combatemos. Já
recebi acusações de que defendo bandidos e, na comissão da infância da OAB eu
não posso levar estas questões, pois os próprios advogados não concordam com esses
movimentos, defendem a posição dos comerciantes locais."
Fernando Borgomoni: “A Batalha foi um sucesso em pouco tempo
e se multiplicaram. As obras contras as enchentes no Paço Municipal expulsaram
os jovens que foram para a Praça da Matriz. A partir de um depoimento do
Secretário de Cultura, a Prefeitura viu-se na obrigação de apoiar o movimento.
Isto ficou claro na secretaria de Cultura mas não foi do governo como um todo.
Passei a ir para a batalha para observar o que estava acontecendo. Antes de tudo
era uma questão social. Temos ali duas frequências diferentes: o público da
Batalha, que vão lá com essa finalidade específica, ou seja, a batalha de
rimas, do hip hop, que fica na parte de baixo da praça. Na parte de cima,
jovens que vão para lá para se reunir, mas sem se interessar propriamente pela
batalha. O Pessoal da Batalha tem muito claro que ocupam um espaço público,
levam sacos de lixo, apelam para não usarem drogas, para que não usam palavras
chulas, sem agressões verbais. Há uma preocupação com a ordem por parte deles.
Num determinado momento eles foram ameaçados por traficantes. Lucas, um dos
líderes, fez um croqui determinando e reivindicando proteção indicando onde a
PM de deveria ficar posicionada. A Batalha não tem como objetivo o confronto
com a Sociedade. Juntamos o movimento hip hop organizado, chamamos essas
lideranças, mas houve uma certa desconfiança do pessoal da Batalha em relação à
geração mais velha do hip hop e não conseguiram conversar.”
A seguir, leu um relatório da Secretaria de Cultura, datado
de 2014, no qual havia sugestões de incorporar à Batalha uma série de
atividades coordenadas pela Secretaria, como oficinas, e inclusive, “aulas de
evangelização” por jovens ligados à Juventude Católica daquela Igreja Matriz,
informações que foram alvo de acalorado debate entre os presentes. Perguntado
sobre o resultado dessas sugestões, disse que não houve prosseguimento no
diálogo, uma vez que os jovens da Batalha querem ser protagonistas e não se
submetem aos modos antigos de participação. Até hoje, informou ainda, a
Prefeitura, por falta de verba, não conseguiu atender as reivindicações de
apoio, como instalar banheiros químicos.
Já Marcelo Dino Fraccaro, enfatizou a complexidade do
assunto que requer uma discussão ampla, dizendo que “o estado não consegue
acompanhar os movimentos com a rapidez esperada, além das dificuldades de dar
respostas”. Informou ainda que “há um entendimento da Prefeitura de que estamos
abertos não só em buscar o diálogo com a Batalha, mas também buscar soluções.
Estamos tentando concluir um Plano Municipal de Cultura com algumas Secretarias
envolvidas nesse debate”.
Presente à reunião, o Luiz Roberto Alves diz-se atento e curioso a esse assunto remetendo-o ao início do Hip hop em SBC, à época em que era Secretário de Cultura, lembrando de Dilma de Melo e Silva e Neusa Borges, que tiveram papel fundamental em ouvir e mediar os jovens de então. Tínhamos “lado” e, como método, entender e atender o que eles reivindicavam, ou seja, muito pouco, um somzinho, uma plataforma. Hoje mudanças. Hoje eles gostam de dar o nome de coletivo, mas esse coletivo tem muito pouco a ver com o problema organizacional e o único caminho para o poder público é construir políticas públicas integradas, única solução para aquele mundo organizado que não no poder público, integrar 6 ou 7 Secretarias para viabilizar soluções a favor do novo que não entendemos ainda mais que cada vez vai se apresentar. Querer ser aberto numa sociedade cada vez mais conservadora. Momentos como este, aqui no Alpharrabio, ficam à parte do oficial, mas são capazes de pensar.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Se você não tem cadastro no Google, pode deixar seu comentário selecionando a opção Nome/URL no campo Comentar como logo abaixo.