Imagem: Domingos Sairo T. Gomes |
MAP - Museu de Arte Popular de Diadema e Políticas de Cultura
são objeto de Audiência Pública
Marcada por tensões, uma vez que o Secretário de Cultura da
cidade, visivelmente despreparado, pareceu não entender a finalidade daquela
audiência, limitando-se, ao invés de responder aos questionamentos e propostas
ali apresentadas, a ler itens burocráticos e números correspondentes à sua
Secretaria, exibidos através de tabelas num "power-point", mas também
por um debate qualificado dos representantes dos coletivos.
A Audiência, solicitada através de requerimento da vereadora
Lilian Cabrera, foi proposta por um amplo movimento de cultura que congrega os
coletivos Hip Hop; DiaDeNega; Kizomba; Macacagueto; Samba e MAP Museu de Arte
Popular, todos representados naquela Audiência.
De acordo com uma das lideranças, a artista plástica Andréia
Alcântara, a "gota d´água" que levou os grupos a solicitarem a
Audiência, foi a transferência do MAP do seu lugar de origem, sem que houvesse
qualquer discussão ou planejamento prévio e sequer justificativa plausível para
essa mudança.
Foi entregue, na ocasião, um longo documento ao Secretário
de Cultura que mapeia os problemas com equipamentos e políticas públicas da
cidade, exigindo a prometida participação popular e diálogo para retomada de
atividades paralisadas bem como solução para os problemas ali apresentados.
Dalila Teles Veras, coordenadora do Fórum Permanente de
Debates Culturais, foi convidada pelos organizadores a fazer um pronunciamento
na abertura dos debates da noite. Também representando o Fórum, estiveram
presentes à Audiência, Valdecirio Teles Veras, Carlos Lotto e Luzia Maninha
Teles Veras.
Segue a íntegra da fala de Dalila:
Boa Noite. Boa noite, Sra. vereadora Lilian Cabrera, autora
do requerimento para realização desta Audiência Pública, em nome de quem
cumprimento todos os companheiros desta mesa. Boa noite mestre Jeronimo Soares
em nome de quem cumprimento todo este povo da cultura.
Em nome do Fórum Permanente de Debates Culturais do Grande
ABC, do qual sou coordenadora desde 2007, em nome do Movimento Cultura Viva
Santo André, com o qual também colaboro, ambos aqui por mim representados, agradeço
o convite do movimento PróCultura de Diadema, responsável pelo pedido desta
Audiência Pública, movimento ao qual aderimos incondicionalmente desde o
primeiro momento, por reconhecermos sua legitimidade no sentido de reivindicar
a melhoria e preservação dos espaços públicos através de diretrizes de
políticas públicas transparentes para a cultura deste município. Dentre os importantes itens aqui pautados,
desejamos ressaltar e denunciar a grave situação do MAP - Museu de Arte Popular
de Diadema, com a retirada do seu lugar de origem, sem que um debate ou planejamento prévio fossem
realizados, atitude que põe em risco sua história e a própria existência do
museu.
Riobaldo, imortal personagem de Grande Sertão Veredas, disse
que "nome de lugar onde alguém já nasceu, devia de estar sagrado".
Isto pode se aplicar ao caso do MAP Museu de Arte Popular de Diadema, que
nestes seus 8 anos de funcionamento construiu
uma identidade e constitui-se hoje numa incontestável referência
nacional. Sim, o solo onde bens culturais
se enraizaram e se tornaram marcas de referência da cidade, reconhecidas aqui e
muito além, como é o caso do MAP, devem estar sagrados, como queria Riobaldo e
seu criador Guimarães Rosa.
Eu estava lá, em 28 de outubro de 2007 e não há como não
lembrar a indescritível atmosfera de sonho realizado que ali pairava. Sonho do
artista Ricardo Amadasi, seu idealizador, Coordenador Técnico e Curador que,
após pesquisa, percorreu vários estados brasileiros na recolha de boa parte do
que hoje compõe o impressionante rico e diversificado acervo do MAP. Sonho da
jovem equipe que ali estava presente, com o entusiasmo de quem sabe da missão
cidadã que assumiu. Sonho coletivo de muitos que a este sonho aderiram.
A partir de então aquele espaço passou a exercer o papel
para o qual foi idealizado, ou seja,
"um lugar que faça justiça à riquíssima arte e cultura popular
brasileira", mas não só, passou também a ser um museu vivo que, além das
exposições que, através de importantes
parcerias, criaram pontes culturais com vários importantes artistas e espaços
culturais de outras localidades do país, transformando-se também num espaço
para encontros e trocas, um espaço para pesquisa, um espaço de ações educativas
reconhecido por gente de abalizada opinião. Haja vista sua história relatada em
3 alentados catálogos, nos quais é possível avaliar com isenção essa bela
trajetória que só honra e leva o nome de Diadema para fora de suas fronteiras.
O MAP é local, a partir do significado simbólico do seu
logotipo, criado por um artista residente na cidade, o mestre Jeronimo Soares,
cuja arte de há muito ultrapassou fronteiras. A local também pela inestimável
riqueza da representação de outros tantos mestres populares residentes aqui e
ao redor.
O MAP é do Brasil, pelo seu importantíssimo e inestimável
acervo de mais de 800 peças de artistas populares brasileiros, no qual se
inclui um importante presépio composto de 700 peças, hoje triste e
precariamente encaixotado, à espera de uma mudança.
O MAP é do mundo, porque além de ser o primeiro e até o
momento único no seu gênero em nossa região, representa o que há de mais
legítimo na cultura brasileira. No dizer do crítico de arte Oscar D'Ambrósio,
"o MAP inscreve seu nome entre as poucas instituições nacionais que trata
a arte e a cultura popular com o respeito e a dignidade que ambas
merecem". Aqui faço um parentesis para dizer que hoje esse verbo
"inscreve", por força de uma decisão desastrosa, está, e esperamos
que provisoriamente, conjugado no
passado.
Pois bem, esse importante bem cultural hoje corre sérios de
ser descaracterizado e esse é um dos motivos de estarmos aqui.
Reforçamos, assim, o que um abaixo assinado já reivindicou,
ou seja, a revogação imediata da decisão de mudança de local do MAP,
inestimável bem cultural público, criado pela vontade popular e que tão bem
representa a cultura brasileira e o imaginário coletivo da própria população de
Diadema, composta por migrantes de todos os rincões brasileiros.
Muito obrigada
Deixo aqui a minha crença nos bons encaminhamentos e ações
reparadoras calcadas na verdadeira participação popular. Obrigada.
Dalila, sempre uma grande presença por onde ela passa.
ResponderExcluirQuem tiver o interesse de conhecer o documento, ele foi publicado no seguinte endereço: http://andreia-alcantara.com.br/forum_01_apresentacao.html
São muitas e consistentes questões feitas por uma riquíssima construção mútua, pessoas com o o interesse comum de construir uma cultura de qualidade baseada na participação do poder público e da sociedade civil.
Sorte minha que passo por locais e gentes como Diadema e todos os que lá estavam. Abraços
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