Dalila Teles Veras
Na reunião do mês de outubro do Fórum Permanente de Debates
Culturais do Grande ABC deu-se a V rodada do Ciclo Cultura Sem Carimbo, que
recebeu representantes de três Saraus que ocorrem na região: Sarau na Quebrada,
Santo André (com depoimentos de Helio
Neri, Glaucia Lemos, Neri Silvestre); Sarau Lapada Poética, do Coletivo Tantas
Letras, São Bernardo do Campo (depoimentos de Conceição Bastos, Jayme Perin
Garcia, Nádia Costa e Letícia Mendonça) e Sarau da Santa (Denise Renaldin);
Livros dos poetas preferidos dos integrantes são levados
para o Sarau e colocados à disposição dos interessados na leitura. O sarau reúne
não só os poetas do grupo, mas uma gama de interessados que vai dos que vão ali
simplesmente para ouvir, conviver e tomar algo, passando pelos que gostam de
ler poemas dos grandes poetas e também dos que ali vão para ler e divulgar seus
próprios poemas. Além das leituras, também passaram a incorporar outras ações,
como exposições e debates. Julio Mendonça acrescentou que a ideia do Tantas
Letras foi inspirada no Observatório do Poema, ciclo de estudos de poesia,
coordenado por Tarso de Melo durante mais de dois anos na Livraria Alpharrabio
e, depois, com a realização de um concurso literário promovido pela Prefeitura
de São Bernardo, quando foi levantada a possibilidade de algo mais alargado
para atender a demanda dos interessados em poesia. Daí o convite a Tarso de
Melo e Reynaldo Damazio para a coordenação.
Com a palavra, os representantes do Sarau na Quebrada, disseram
que trata-se de uma ideia antiga, pelos idos de 1995, quando alguns de seus
atuais membros, faziam teatro no Colégio S. Generoso e o professor de artes
saía com os alunos de teatro para falar de poesia. O Sarau, propriamente dito,
nasceu de uma necessidade pontual do Ponto de Cultura "Cultura e
Gingada", em 2010, ou seja, saldar um dívida de cinco mil reais. Assim,
uma noite de pizza com sarau saldou a dívida e permaneceu com regularidade no
Bar Ganesh por 3 anos. Por conta das dificuldades do espaço, acabou virando
itinerante, em bares ao redor do terminal Rodoviário da Vila Luzita. No início,
a dúvida: Sarau ou outra coisa? Como entendiam que o que faziam era uma cultura
cidadã, a tentativa, desde então, tem sido "linkar" as vivências do
Jardim Santo André com as de outras comunidades, participando de debates sobre
políticas públicas, como o Programa Cultura Viva do Estado e também ampliando e
aprofundado o diálogo com coletivos todo o Brasil.
Alguns trechos recolhidos dos depoimentos:
"A gente não faz cultura para pobre, mas necessita de
uma política que contemple o que fazemos da mesma maneira que a OSESP é
contemplada".
"O que nos move, são os momentos de encantamento, quer
seja com uma dona de casa ou com um morador de rua ou alguém que acabou de se
alfabetizar e tenta ler um poema no Sarau"
"Tem também o chato que fala demais, outro que, após
beber um pouco fala mais ainda, mas tudo isso faz parte"
"Temos levado temas para as discussões específicas,
como precarização do trabalho, violência, passe livre, racismo, maioridade
penal, entre outros. Os temas nos chegam e sempre escolhemos os mais fortes
para levar ao debate"
"Cada novo sarau é uma porta que se abre para muita
gente. A partir daí a gente não pode prever o que acontece e aí é que está o
desafio".
"A gente não quer virar uma luta de braço, mas sempre
partindo da alteridade".
Com a palavra, Denise Renaldin relatou sua experiência junto
ao Sarau da Santa (Da "Santa" porque ocorreu no Bairro de
"Santa" Terezinha|), por ela organizado a partir de reuniões do Grupo Cultura Viva (Santo André). O sarau
chegou a atrair 400 pessoas em praça pública, cuja divulgação deu-se
essencialmente via facebook. O Sarau, realizado mensalmente durante 6 meses,
após os quais foi interrompido por 2 meses, com breve retorno, encontrando-se
no momento em "hibernação".
Além das leituras, debates com temas como trabalho infantil,
racismo e temas abertos foram realizados. Dentre muitas colaborações,
destaca-se a solidariedade de uma moradora que cedeu o banheiro da própria casa
e até a própria cozinha para uso dos participantes. Contou com participantes
pessoas de todas as idades.
A maior dificuldade
que enfrentou, de acordo com Denise, foi a organização, devido às
dificuldades de um evento com esse caráter, em lugar aberto. A dependência das
condições climáticas foi uma das dificuldades, além de outras, recorrentes,
como sanitários.
Dessas cinzas da "hibernação", quem sabe, não
renascerá, qualquer dias destes, o pássaro que retomará o canto interrompido?
Também constaram da longa pauta da reunião os seguintes
assuntos:
- Avaliação da situação da escultura de Luis Sacilotto,
retirada há mais de uma ano do calçadão da Rua Cel. Oliveira, com lances até
agora "novelescos" e informações cada vez mais desencontradas da
Prefeitura andreense.
- Debate sobre a "carta aberta" a ser protocolada
pelo Movimento Cultura Viva na Prefeitura Municipal de Santo André e já
divulgada na página do coletivo no facebook com cerca de 150 assinaturas,
cobrando posicionamento e diálogo do novo Secretário de Cultura, Thiago
Nogueira, recém-nomeado e que passou a acumular duas secretarias. Votou-se pela
adesão do Fórum como assinante do documento.
- Silvia Passarelli trouxe a informação sobre o Projeto de
sua autoria "Cartografia cultural" que atendeu (e foi aprovado) ao
edital da Reitoria de Pró-Extensão da
UFABC para realização em 10 meses do ano 2015: " A proposta visa conhecer
a região do ABC sob o enfoque da produção cultural " e é "parte de um
programa mais amplo que se propõe implantar um observatório de políticas
culturais do ABC. Esta etapa do trabalho se propõe a identificar produtores
individuais e coletivos, criar formas de qualificar e classificar os produtores
e criar mapas temáticos sobre a produção cultural regional", dentre os
objetivos, está a realização de "censo colaborativo de produtores
culturais por meio de questionário por internet e pesquisa de campo;
identificar ferramentas para elaboração de mapas colaborativos digitais;
elaborar mapa digital de produtores culturais; divulgar resultados.". Da
lista de coletivos "parceiros do projeto" consta o Fórum Permanente
de Debates, que unanimemente concordou com a indicação.
- Agradecimento de Ditinho da Congada, candidato a Deputado
Estadual nas últimas eleições, cuja bandeira foi a Cultura, pelos 1.108 votos
obtidos na região.
- Informe e convite de Neusa Borges sobre a Festa da
Consciência Negra, em São Bernardo, bem como a reunião preparatória (dia 17.11
no Consórcio) do próximo Congresso de História do ABC a ser realizado no
próximo ano em Ribeirão Pires.
- Convite de Alex, do Espaço Cultural Gambalaia, para o 9º
Circuito de Teatro Português, que trás ao Brasil grupos de teatro dos países
lusófonos, com a apresentação em seu espaço do Grupo de São Tomé e Príncipe.
- Informação de Ana Mesquita, sobre a participação do Grupo
Abaçaí na Comissão Paulista de Folclore (Núcleo ABC para a Comissão Paulista de
Folclore) e a importância da eventual participação do Fórum.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Se você não tem cadastro no Google, pode deixar seu comentário selecionando a opção Nome/URL no campo Comentar como logo abaixo.