terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Cultura sem Carimbo V - registro da reunião de outubro / 2014


Dalila Teles Veras


Na reunião do mês de outubro do Fórum Permanente de Debates Culturais do Grande ABC deu-se a V rodada do Ciclo Cultura Sem Carimbo, que recebeu representantes de três Saraus que ocorrem na região: Sarau na Quebrada, Santo André (com  depoimentos de Helio Neri, Glaucia Lemos, Neri Silvestre); Sarau Lapada Poética, do Coletivo Tantas Letras, São Bernardo do Campo (depoimentos de Conceição Bastos, Jayme Perin Garcia, Nádia Costa e Letícia Mendonça) e Sarau da Santa (Denise Renaldin);








Conceição Bastos traçou rápido histórico do movimento que originou o Sarau Lapada Poética, tendo como ponto de partida a realização do projeto de oficinas denominado Tantas Letras, 2007 a 2012, promovido pela Prefeitura de São Bernardo do Campo, com a coordenação do então agente cultural Julio Mendonça, dos escritores convidados Tarso de Melo e Reynaldo Damazio. Participantes mais ativos dessas oficinas passaram a se reunir regularmente e nasceu o grupo do mesmo nome, Tantas Letras, que já publicou uma coletânea e que, há cerca um ano, promove o Sarau.  O nome Lapada poética deve-se ao nome pelo qual era conhecido o bar onde inicialmente foi realizado  (Boteco do  Zé Lapada). Atualmente é realizado no Ferradura Bar, de propriedade da filha do cantor Agostinho dos Santos, em Rudge Ramos, bairro de São Bernardo do Campo, a cada 15 dias. Começa às 5 da tarde sem hora para terminar.




Livros dos poetas preferidos dos integrantes são levados para o Sarau e colocados à disposição dos interessados na leitura. O sarau reúne não só os poetas do grupo, mas uma gama de interessados que vai dos que vão ali simplesmente para ouvir, conviver e tomar algo, passando pelos que gostam de ler poemas dos grandes poetas e também dos que ali vão para ler e divulgar seus próprios poemas. Além das leituras, também passaram a incorporar outras ações, como exposições e debates. Julio Mendonça acrescentou que a ideia do Tantas Letras foi inspirada no Observatório do Poema, ciclo de estudos de poesia, coordenado por Tarso de Melo durante mais de dois anos na Livraria Alpharrabio e, depois, com a realização de um concurso literário promovido pela Prefeitura de São Bernardo, quando foi levantada a possibilidade de algo mais alargado para atender a demanda dos interessados em poesia. Daí o convite a Tarso de Melo e Reynaldo Damazio para a coordenação.




Com a palavra, os representantes do Sarau na Quebrada, disseram que trata-se de uma ideia antiga, pelos idos de 1995, quando alguns de seus atuais membros, faziam teatro no Colégio S. Generoso e o professor de artes saía com os alunos de teatro para falar de poesia. O Sarau, propriamente dito, nasceu de uma necessidade pontual do Ponto de Cultura "Cultura e Gingada", em 2010, ou seja, saldar um dívida de cinco mil reais. Assim, uma noite de pizza com sarau saldou a dívida e permaneceu com regularidade no Bar Ganesh por 3 anos. Por conta das dificuldades do espaço, acabou virando itinerante, em bares ao redor do terminal Rodoviário da Vila Luzita. No início, a dúvida: Sarau ou outra coisa? Como entendiam que o que faziam era uma cultura cidadã, a tentativa, desde então, tem sido "linkar" as vivências do Jardim Santo André com as de outras comunidades, participando de debates sobre políticas públicas, como o Programa Cultura Viva do Estado e também ampliando e aprofundado o diálogo com coletivos todo o Brasil.



Alguns trechos recolhidos dos depoimentos:
"A gente não faz cultura para pobre, mas necessita de uma política que contemple o que fazemos da mesma maneira que a OSESP é contemplada". 



"O que nos move, são os momentos de encantamento, quer seja com uma dona de casa ou com um morador de rua ou alguém que acabou de se alfabetizar e tenta ler um poema no Sarau"
"Tem também o chato que fala demais, outro que, após beber um pouco fala mais ainda, mas tudo isso faz parte"



"Temos levado temas para as discussões específicas, como precarização do trabalho, violência, passe livre, racismo, maioridade penal, entre outros. Os temas nos chegam e sempre escolhemos os mais fortes para levar ao debate"
"Cada novo sarau é uma porta que se abre para muita gente. A partir daí a gente não pode prever o que acontece e aí é que está o desafio".
"A gente não quer virar uma luta de braço, mas sempre partindo da alteridade".



Com a palavra, Denise Renaldin relatou sua experiência junto ao Sarau da Santa (Da "Santa" porque ocorreu no Bairro de "Santa" Terezinha|), por ela organizado a partir de reuniões  do Grupo Cultura Viva (Santo André). O sarau chegou a atrair 400 pessoas em praça pública, cuja divulgação deu-se essencialmente via facebook. O Sarau, realizado mensalmente durante 6 meses, após os quais foi interrompido por 2 meses, com breve retorno, encontrando-se no momento em "hibernação".



Além das leituras, debates com temas como trabalho infantil, racismo e temas abertos foram realizados. Dentre muitas colaborações, destaca-se a solidariedade de uma moradora que cedeu o banheiro da própria casa e até a própria cozinha para uso dos participantes. Contou com participantes pessoas de todas as idades. 



A maior dificuldade  que enfrentou, de acordo com Denise, foi a organização, devido às dificuldades de um evento com esse caráter, em lugar aberto. A dependência das condições climáticas foi uma das dificuldades, além de outras, recorrentes, como sanitários.
Dessas cinzas da "hibernação", quem sabe, não renascerá, qualquer dias destes, o pássaro que retomará o canto interrompido?
Também constaram da longa pauta da reunião os seguintes assuntos:



- Avaliação da situação da escultura de Luis Sacilotto, retirada há mais de uma ano do calçadão da Rua Cel. Oliveira, com lances até agora "novelescos" e informações cada vez mais desencontradas da Prefeitura andreense.
- Debate sobre a "carta aberta" a ser protocolada pelo Movimento Cultura Viva na Prefeitura Municipal de Santo André e já divulgada na página do coletivo no facebook com cerca de 150 assinaturas, cobrando posicionamento e diálogo do novo Secretário de Cultura, Thiago Nogueira, recém-nomeado e que passou a acumular duas secretarias. Votou-se pela adesão do Fórum como assinante do documento.



- Silvia Passarelli trouxe a informação sobre o Projeto de sua autoria "Cartografia cultural" que atendeu (e foi aprovado) ao edital da  Reitoria de Pró-Extensão da UFABC para realização em 10 meses do ano 2015: " A proposta visa conhecer a região do ABC sob o enfoque da produção cultural " e é "parte de um programa mais amplo que se propõe implantar um observatório de políticas culturais do ABC. Esta etapa do trabalho se propõe a identificar produtores individuais e coletivos, criar formas de qualificar e classificar os produtores e criar mapas temáticos sobre a produção cultural regional", dentre os objetivos, está a realização de "censo colaborativo de produtores culturais por meio de questionário por internet e pesquisa de campo; identificar ferramentas para elaboração de mapas colaborativos digitais; elaborar mapa digital de produtores culturais; divulgar resultados.". Da lista de coletivos "parceiros do projeto" consta o Fórum Permanente de Debates, que unanimemente concordou com a indicação.




- Agradecimento de Ditinho da Congada, candidato a Deputado Estadual nas últimas eleições, cuja bandeira foi a Cultura, pelos 1.108 votos obtidos na região.



- Informe e convite de Neusa Borges sobre a Festa da Consciência Negra, em São Bernardo, bem como a reunião preparatória (dia 17.11 no Consórcio) do próximo Congresso de História do ABC a ser realizado no próximo ano em Ribeirão Pires.



- Convite de Alex, do Espaço Cultural Gambalaia, para o 9º Circuito de Teatro Português, que trás ao Brasil grupos de teatro dos países lusófonos, com a apresentação em seu espaço do Grupo de São Tomé e Príncipe.



- Informação de Ana Mesquita, sobre a participação do Grupo Abaçaí na Comissão Paulista de Folclore (Núcleo ABC para a Comissão Paulista de Folclore) e a importância da eventual participação do Fórum.  


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