quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Cultura Sem Carimbo IV - registro da reunião de setembro / 2014

Dalila Teles Veras
 
O Ciclo Cultura Sem Carimbo, promovido pelo Fórum Permanente de Debates Culturais do Grande ABC convidou para sua reunião do mês de setembro, a artista visual Sueli de Moraes (Suca) para uma agradável conversa acerca da Ocupação Cuiabá, iniciativa por ela idealizada e desenvolvida desde 2004.
 
 
A primeira realização, partiu das ideias debatidas com seus colegas de graduação na Faculdade de Belas Artes. A ideia era mostrar a arte que produziam naquele momento. Assim nasceu a Cuiabá 153 que, como o nome já indicava (trata-se do nome e número da Rua da residência da artista), foi aberta ao público na própria casa da artista, com direito a caldo de abóbora servido aos visitantes.
 Já na segunda Cuiabá 153, as obras foram especialmente desenvolvidas para a Residência e muitas delas ali mesmo produzidas. Os artistas convidados ocuparam todas as dependências térreas do sobrado (sala de estar, cozinha, banheiro, área de serviço e quintal (a família restou a privacidade do andar de cima - os quartos). Por um dia inteiro, a casa transformada em galeria recebeu visitantes e desenvolveu atividades artísticas como performance, números musicais, serviu acepipes e promoveu palestras sobre cultura e arte.
 
 
 
A mais recente, realizada neste ano de 2014, teve como proposta fazer arte pensando também na rua (Uma pequena rua sem saída) envolvendo também outros moradores. A ideia nasceu da vivência de uma de suas filhas que estudava na França e participou de uma "ocupação" denominada "janelas que falam". Daí para o "Portões que falam" foi um passo  e lá foi Sueli a campo para um longo e exaustivo trabalho (um ano) de convencimento dos vizinhos a cederem seus portões aos artistas para interferências. Muita desconfiança a princípio, com algumas resistências que permaneceram. Após a escuta dos moradores, os artistas desenvolveram projetos que dialogaram com a história daquelas casas, daqueles portões.


 
À medida que sua fala avançava, Sueli projetava imagens das ocupações artísticas, com interação entusiasmada dos presentes.
Como nem tudo é sonho, a realidade mostrou uma série de dificuldades como a falta de patrocínios para a produção das obras (o pouco traquejo dos artistas para isso e a falta de gente especializada no assunto em campo), a imprensa local não entendeu a proposta e pouco ou nada divulgou. A dificuldade maior, entretanto, foi "apresentar-se aos próprios vizinhos" : - Mas ela mora aqui? A divulgação corpo-a-corpo, com distribuição de filipetas da própria Suca entre os frequentadores dos parques e praças ao redor.
 
 
Por fim, artistas e moradores envolvidos num trabalho febril, num dia idem, verdadeiro acontecimento cultural. Oficinas para crianças, contação de histórias, apresentações teatrais, musicais, comidinhas, produtos com o logo da mostra, como coleção de "selos" com as obras expostas, camisetas e outros.
Houve de tudo, inclusive, como esperado, tentativas de apropriações indébitas por parte de políticos e gestores públicos em troca de "ajuda"e a natural resistência.
O fascínio da experiência que envolveu dezenas de artistas num trabalho insano de meses, despertou a vontade de expandi-la para outros portões, outras ruas, apropriação da tradição da "cultura da rua", da arte livre de paredes e guardas de plantão.
O depoimento apaixonado comoveu os presentes e a conversa rendeu trocas e muitas ideias. Daqui, ficamos a torcer para que a Suca e seu colegas não desistam e permaneçam na teimosia.
 

Ainda durante a reunião, constaram da pauta
informes gerais:
- Relato da proposta recebida do Secretário de Obras de Santo André, Paulinho Serra sobre a realização de uma "conversa" na Livraria Alpharrabio sobre o posicionamento do caso Sacilotto (Retorno da obra retirada da Oliveira Lima). Pedido negado. Optou-se por sugerir ao secretário que simplesmente cumpra o prometido na reunião pública do ano passado ou convoque uma audiência pública em equipamento idem.

 
-  Revelando SP - Morro do Querosene, 18ª edição (convite de Neusa Borges)

- Notícia da transformação do Grupo Folclórico Congada do Parque São Bernardo (Ditinho)

 

Fala do convidado Sérgio de Azevedo (prof. da Fundação das Artes de São Caetano do Sul  e FAAP) que veio nos dar notícias de sua atuação como tutor de um projeto da Universidade Federal da Bahia que orientará a elaboração de Planos Municipais de Cultura pelo Brasil e de um caso que acompanhou, ou seja, o relato do município de Três Corações-MG, cidade onde a prefeitura se negava a dar andamento à construção de políticas públicas para a área da cultura e uma ONG se organizou e mobilizou a sociedade civil e artistas para elaborar um bem sucedido projeto de lei de iniciativa popular. Fizeram uma consulta jurídica para o MInC, que informou ser legítima a iniciativa. A ideia poderia ser aplicada em Santo André, caso a Prefeitura continue ignorando a possibilidade da implantação de um Plano Municipal de Cultura, uma vez que temos já, reconhecida pelo MINC, uma Conferência Livre de Cultura. 

Um comentário:

Se você não tem cadastro no Google, pode deixar seu comentário selecionando a opção Nome/URL no campo Comentar como logo abaixo.