Simone Massenzi Savordelli
Nesta época do ano, em que o carnaval aflora o sentimento da cultura
popular brasileira que por meio desta grande manifestação mostra o que é a
identidade do povo brasileiro, cada um, em seu âmago, faz o juízo sobre esta
identidade.
Os costumes, a culinária, a língua, a arquitetura, as manifestações
culturais, enfim, todos os elementos que possam identificar um povo fazem parte
do aparato cultural que vai se arraigando ao longo do tempo, de modo que em
qualquer parte do mundo os elementos se tornam únicos e de imediato
reconhecimento.
Muito embora o carnaval do Rio de Janeiro e de São Paulo sejam os marcos
avaliatórios desta manifestação de cultura brasileira, neste nosso imenso
território existem tantas outras manifestações tão fortes quanto, e talvez até
muito mais brasileiras e que vão sendo ensinadas de geração em geração por
mestres da vida, elemento este que mais ainda faz arraigar a identidade
cultural de um povo e de uma região. Bem, pelo menos no meu entender.
Tudo isso para dizer não só daquilo que identifica e qualifica um povo, mas
também do elemento que se forma em torno da consciência social, do movimento
político e dos usos que este povo faz dos equipamentos públicos e da própria
sociedade.
A arquitetura, as cidades, as ruas, os bairros, o comércio, a vida... Tudo
se forma, evolui, constrói, ou destrói à partir da consciência do povo; do que
a sociedade como um todo pensa de si mesma, deseja para si e para o futuro.
O coletivo exerce um poder sobre o indivíduo e faz uma força plena girar
uma engrenagem que vai para frente, ou retrocede, tudo conforme esta
consciência social e conforme o que o povo sente de si mesmo.
Em algumas regiões vemos as cidades e seus equipamentos públicos como praças
e parques bem preservados, bem cuidados, sem lixo, sem destruição. Pode até ser
que os governantes destas regiões exerçam com maior afinco o seu papel e façam
uma manutenção mais eficiente e rápida. Mas, também pode ser que o povo que
habita estas regiões tenha uma consciência de pertencimento maior e, por isso,
exerça com maior afinco o seu papel e preseva os equipamentos públicos, sem
destruição, com o zelo necessário daquilo que é do povo por natureza.
Nos povos mais antigos, o sentimento de pertencimento sobre o equipamento
público é expresso com veemência. Talvez pela consciência da crueldade da
destruição advinda de guerras, de impérios sobre impérios. Talvez porque exista
a consciência do “valor monetário” e do “valor cultural” que recai sobre todo o
equipamento público, tido pelas ruas, parques, praças, prédios públicos,
monumentos, enfim, tudo aquilo que é da sociedade. Tudo aquilo que a própria
sociedade cria e mantém.
Este elemento: o sentimento de pertencimento, deveria nos seguir
diariamente. Deveríamos olhar para a nossa cidade com o mesmo carinho que
olhamos para dentro de nossas casas. Afinal, a nossa cidade é a nossa casa.
Nós devemos utilizar as nossas ruas, parques e praças com o mesmo carinho e
cuidado com que utilizamos as nossas casas. Devemos manter limpo, em ordem, sem
destruição, sem pichação. Nós devemos exigir dos nossos governantes uma
constante e rápida manutenção destes equipamentos para que eles sempre estejam
prontos e disponíveis à sociedade que é sua verdadeira proprietária e
possuidora.
Nós devemos criar, ou fortalecer, uma consciência coletiva do pertencimento
e, para isso, podemos nos utilizar da força dos coletivos e de seus
organizadores que podem fazer ações em prol da preservação e manutenção das
nossas cidades. Vamos cuidar para ter para sempre!
As manifestações culturais, assim como esta do nosso carnaval, são feitas
nas cidades. Será que vemos como as cidades ficam após a passagem destas
manifestações? Como deixamos nossas casas, quando saímos? Como queremos a nossa
casa quando recebemos um visitante?
Por esta reflexão deixo que todos pensem em como irão usar e cuidar das
praças, parques e ruas. Como se sentirão quando verem alguém jogando lixo na
rua, pichando uma parede, quebrando um banco de praça, quebrando um chão de
praça com uma utilização indevida, destruindo um prédio público, desrespeitando
um monumento marco da cidade?
Pertencimento, ou sentimento? A cidade nos pertence, como a sentimos quando
a olhamos?
Nós criamos a consciência social. Nós criamos a nossa identidade. Nós somos
os donos de nós mesmos. Se cada um fizer um pouquinho, todos farão melhor!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Se você não tem cadastro no Google, pode deixar seu comentário selecionando a opção Nome/URL no campo Comentar como logo abaixo.