IV SEMINÁRIO - UNIVERSIDADE, CULTURA E SOCIEDADE.
Economia Criativa - Um depoimento
Dalila Teles Veras
Alinhavei o texto abaixo, a partir das anotações que fiz
para levar ao debate no Painel
"Ação dos Agentes Culturais da Sociedade" como parte do IV
SEMINÁRIO UNIVERSIDADE, CULTURA E SOCIEDADE - UMA DISCUSSÃO SOBRE ECONOMIA
CRIATIVA. realizado na USCS - Universidade São Caetano do Sul, no dia 20 de
março de 2014. Tive a honra de compartilhar ideias com gente ilustre como a Dra.
Patricia Sant´Anna, fundadora e líder do Grupo de Estudos em Arte, Design e Moda da Unicamp; o professor Dr. Tião
Soares, dirigente do Fórum para as Culturas Populares e Tradicionais e dos
Barracões Culturais da Cidadania; e Guilardo Veloso,
do VALEMAIS - Instituto Sociocultural Jequitinhonha). Do
primeiro painel que abriu o Seminário, "O papel dos entes públicos"
contou com a participação do Secretário de Políticas Culturais do Ministério da
Cultura, Américo Cordula; do Presidente da Agência de
Desenvolvimento do Grande ABC, Rafael Marques; e do Secretário Municipal de
Cultura de São Caetano do Sul, Jander de Lira.
arquivo USCS |
Deixo aqui a palavra escrita baseada na palavra oral, como
intenção única de eventualmente contribuir com a continuidade do debate.
Dirijo há 22 anos uma livraria que, na verdade, foi criada com a finalidade
única de dar suporte financeiro e sustentabilidade a um projeto cultural, mas
que, por completa incompetência para
negócios ou competitividade minha, caminhou mesmo para o que estava de fato
vocacionada, ou seja, tornar-se um polo
criativo, de encontro e de debates. Entretanto, jamais atingiu a tal sustentabilidade, sobrevivendo do
suporte financeiro e trabalho voluntário de membros da família envolvidos com
um projeto que, mais do que cultural, é de vida.
Dito isto, sei que estou correndo o risco de levantar suspeitas
sobre a conveniência do convite que me foi dirigido. Pois foi exatamente isso
que ponderei ao recebê-lo dos organizadores, a quem muito agradeço. Argumentei se
não seria um contrassenso sentar-me a
esta mesa de debates sobre economia criativa quando todos os indicadores de minha
trajetória apontam para algo que vai na contracorrente das premissas desse programa
do governo federal que, é bom que se diga, reconheço como oportuno e meritório.
Por outro lado, os dados nos mostram que
os setores de economia criativa respondem hoje para 8,5% dos empregos formais
no Brasil, com renda 44% superior à média dos demais setores (fonte MINC). Isso
só evidencia a importância do que se discutirá hoje aqui.
Mas já que aqui estou, começo pelo paradoxo, dizendo que,
como poeta, talvez meu ofício principal dentre os muitos que exerço, lido com a manufatura de inutensílios, como
diria o poeta, ou seja, poemas, produtos sem qualquer mais-valia. Como
"empreendedora" (com aspas) jamais estabeleci metas, fui caminhando
impulsionada a paixões. Foi assim, que movidos pelas circunstâncias, falta de
outros espaços que o fizessem, há duas décadas promovemos incessantemente
atividades que já ultrapassam a casa de um milhar, envolvendo expressões
artísticas que vão de um simples lançamento de livro a exposições de arte,
passando por recitais musicais,
espetáculos teatrais, ciclos de cinema, conversas com personalidades
artísticas, memorialistas e outros. Criamos também uma editora nanica que já
publicou mais de 150 títulos, catálogo que privilegia a boa literatura e
produção ensaística da nossa região.
Mas essa trajetória na contramão dos editais e não
recorrência a quaisquer tipo de patrocínios não significa que sejamos contra
eles. Pelo contrário, a Livraria
Alpharrabio, ao longo de todos estes anos, tem promovido permanentemente
debates que contemplam e incentivam a qualificação do debate da cultura
política, da gestão e das políticas públicas da cultura.
Neste sentido, a Livraria sedia, desde 2007, o Fórum Permanente de Debates Culturais do Grande ABC, que é por mim coordenado, e que em suas discussões mensais, promove estudos,, discussões e ações públicas no sentido qualificar o debate da cultura política, bem como estabelecer processos participativos e críticos das políticas públicas da cultura e da ação cultural integrada na região do ABC. Trata-se de um grupo independente, sem constituição jurídica, que muito tem insistido no reconhecimento da cultura como centralidade e valor inalienável da formação humana.
Afinal, este depoimento de minha experiência pessoal frente à Livraria Alpharrabio, bem como através do ativismo que vai além dela, pretendeu mostrar foi justamente a capacidade criativa da comunidade, individual e comunitária, que nem sempre está ligada unicamente à economia ou preocupada com a questão do mercado, mas ainda assim estabelece ações importantes que, de forma permanente e independente, promovem o fomento, a produção e a circulação de bens culturais além de manter aceso o debate da cultura política, tendo em vista a centralidade da cultura como estratégia de guerrilha contra a mesmice e apropriações indébitas.
Neste sentido, a Livraria sedia, desde 2007, o Fórum Permanente de Debates Culturais do Grande ABC, que é por mim coordenado, e que em suas discussões mensais, promove estudos,, discussões e ações públicas no sentido qualificar o debate da cultura política, bem como estabelecer processos participativos e críticos das políticas públicas da cultura e da ação cultural integrada na região do ABC. Trata-se de um grupo independente, sem constituição jurídica, que muito tem insistido no reconhecimento da cultura como centralidade e valor inalienável da formação humana.
Afinal, este depoimento de minha experiência pessoal frente à Livraria Alpharrabio, bem como através do ativismo que vai além dela, pretendeu mostrar foi justamente a capacidade criativa da comunidade, individual e comunitária, que nem sempre está ligada unicamente à economia ou preocupada com a questão do mercado, mas ainda assim estabelece ações importantes que, de forma permanente e independente, promovem o fomento, a produção e a circulação de bens culturais além de manter aceso o debate da cultura política, tendo em vista a centralidade da cultura como estratégia de guerrilha contra a mesmice e apropriações indébitas.
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