segunda-feira, 31 de março de 2014

Economia Criativa

 
 
IV SEMINÁRIO - UNIVERSIDADE, CULTURA E SOCIEDADE.
 
Economia Criativa - Um depoimento
 Dalila Teles Veras
                                             
Alinhavei o texto abaixo, a partir das anotações que fiz para levar ao debate no Painel   "Ação dos Agentes Culturais da Sociedade" como parte do IV SEMINÁRIO UNIVERSIDADE, CULTURA E SOCIEDADE - UMA DISCUSSÃO SOBRE ECONOMIA CRIATIVA. realizado na USCS - Universidade São Caetano do Sul, no dia 20 de março de 2014. Tive a honra de compartilhar ideias com gente ilustre como a Dra. Patricia Sant´Anna, fundadora e líder do Grupo de Estudos em Arte, Design e Moda da Unicamp; o professor Dr. Tião Soares, dirigente do Fórum para as Culturas Populares e Tradicionais e dos Barracões Culturais da Cidadania; e Guilardo Veloso, do VALEMAIS - Instituto Sociocultural Jequitinhonha). Do primeiro painel que abriu o Seminário, "O papel dos entes públicos" contou com a participação do Secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, Américo Cordula;  do  Presidente da Agência de Desenvolvimento do Grande ABC, Rafael Marques; e do Secretário Municipal de Cultura de São Caetano do Sul, Jander de Lira.
arquivo USCS
 
Deixo aqui a palavra escrita baseada na palavra oral, como intenção única de eventualmente contribuir com a continuidade do debate.                               
Dirijo há 22 anos uma livraria  que, na verdade, foi criada com a finalidade única de dar suporte financeiro e sustentabilidade a um projeto cultural, mas que, por completa incompetência  para negócios ou competitividade minha, caminhou mesmo para o que estava de fato vocacionada, ou seja, tornar-se um  polo criativo, de encontro e de debates. Entretanto, jamais atingiu  a tal sustentabilidade, sobrevivendo do suporte financeiro e trabalho voluntário de membros da família envolvidos com um projeto que, mais do que cultural, é de vida.
 
Dito isto, sei que estou correndo o risco de levantar suspeitas sobre a conveniência do convite que me foi dirigido. Pois foi exatamente isso que ponderei ao recebê-lo dos organizadores, a quem muito agradeço. Argumentei se não seria um contrassenso  sentar-me a esta mesa de debates sobre economia criativa quando todos os indicadores de minha trajetória apontam para algo que vai na contracorrente das premissas desse programa do governo federal que, é bom que se diga, reconheço como oportuno e meritório.  Por outro lado, os dados nos mostram que os setores de economia criativa respondem hoje para 8,5% dos empregos formais no Brasil, com renda 44% superior à média dos demais setores (fonte MINC). Isso só evidencia a importância do que se discutirá hoje aqui. 
Mas já que aqui estou, começo pelo paradoxo, dizendo que, como poeta, talvez meu ofício principal dentre os muitos que exerço,  lido com a manufatura de inutensílios, como diria o poeta, ou seja, poemas, produtos sem qualquer mais-valia. Como "empreendedora" (com aspas) jamais estabeleci metas, fui caminhando impulsionada a paixões. Foi assim, que movidos pelas circunstâncias, falta de outros espaços que o fizessem, há duas décadas promovemos incessantemente atividades que já ultrapassam a casa de um milhar, envolvendo expressões artísticas que vão de um simples lançamento de livro a exposições de arte, passando por recitais musicais,  espetáculos teatrais, ciclos de cinema, conversas com personalidades artísticas, memorialistas e outros. Criamos também uma editora nanica que já publicou mais de 150 títulos, catálogo que privilegia a boa literatura e produção ensaística da nossa região.
 
Mas essa trajetória na contramão dos editais e não recorrência a quaisquer tipo de patrocínios não significa que sejamos contra eles.  Pelo contrário, a Livraria Alpharrabio, ao longo de todos estes anos, tem promovido permanentemente debates que contemplam e incentivam a qualificação do debate da cultura política, da gestão e das políticas públicas da cultura.

Neste sentido, a Livraria sedia, desde 2007, o Fórum Permanente de Debates Culturais do Grande ABC, que é por mim coordenado, e que em suas discussões mensais, promove estudos,, discussões e ações públicas no sentido qualificar o debate da cultura política, bem como estabelecer processos participativos e críticos das políticas públicas da cultura e da ação cultural integrada na região do ABC. Trata-se de um grupo independente, sem constituição jurídica, que muito tem insistido no reconhecimento da cultura como centralidade e valor inalienável da formação humana.

Afinal, este depoimento de  minha experiência pessoal frente à Livraria Alpharrabio, bem como através do ativismo que vai além dela,  pretendeu mostrar foi justamente a capacidade criativa da comunidade, individual e comunitária, que nem sempre está ligada unicamente à economia ou preocupada com a questão do mercado, mas ainda assim estabelece ações importantes que, de forma permanente e independente, promovem o fomento, a  produção e a circulação de bens culturais além de manter aceso o debate da cultura política, tendo em vista a centralidade da cultura como estratégia de guerrilha contra a mesmice e apropriações indébitas.

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