Julio Mendonça
Em
entrevista ao jornal Repórter Diário publicada no último dia 24 de janeiro, o
secretário de Cultura, Esportes e Lazer de Mauá, Waldir Luiz da Silva, informou
que o Grupo de Trabalho de Cultura do Consórcio Intermunicipal Grande ABC está
elaborando um calendário regional de eventos para “disseminar ações culturais
na região” e “servir de publicidade para cada cidade”.
Uma programação
de eventos em circuito no ABC, desacompanhada de outras ações que apontem para
uma política conseqüente e dialogada, é mais uma iniciativa que reafirma o
paradigma da política cultural centralizada que pretende “levar cultura para o
povo” (expressão freqüentemente usada para justificar esse tipo de política).
Essa mesma política de eventos é a que prevalece na administração pública de
cultura dos municípios do ABC, assim como, aliás, em grande parte do país.
Eventos, em si, não são um problema; o problema está em basear a ação cultural
em eventos. As políticas públicas de cultura necessitam de ações e programas
mais duradouros e estruturantes e um consórcio intermunicipal, por articular
esforços conjuntos de diferentes municípios em torno de interesses públicos
comuns, precisa, com mais razão, de ações estruturantes.
Dalila Teles
Veras já publicou, aqui, o relato que apresentou no Encontro da Diversidade
Cultural do ABC, realizado em novembro passado, no qual ela retoma as
circunstâncias da criação e o histórico da atuação do Fórum Permanente de
Debates Culturais do Grande ABC. Nesse relato, Dalila narra a participação
do Fórum junto ao Consórcio Intermunicipal Grande ABC – principalmente quando
foi convidado a integrar o Seminário Planejamento Estratégico Regional, em
março de 2008 – e resume as propostas apresentadas durante essa participação. Não
é o caso, aqui, de reproduzir esse relato que o leitor pode encontrar
facilmente nesta mesma página. Gostaria, apenas, de enfatizar que as propostas
que defendemos tiveram sempre a preocupação de não se restringirem a efeitos
imediatos e pontuais e foram sempre acompanhadas da disposição de participar e
dialogar. Estava entre elas um programa de circulação regional de produtos
culturais como parte integrante de uma série de ações estruturantes, sendo a
primeira delas o projeto de Censo Cultural Regional (que, depois, foi
re-proposto como Pontão de Cultura Mapeamento 7 Cidades através de
convênio entre o Consórcio Intermunicipal e o Ministério da Cultura).
O próprio
Encontro da Diversidade Cultural do ABC é um exemplo de uma ação que pretendeu
refletir o momento cultural do ABC, não por eventos, mas propiciando um espaço
de encontro para relatos, diálogos, debates e propostas. É muito significativo
que esse encontro tenha surgido, também, da iniciativa da sociedade civil
organizada (este Fórum Permanente, ao qual se juntou o Movimento Cultura Viva
Santo André), e que tenha sido acolhida e enriquecida no debate pelas
contribuições e ações de duas instituições de grande importância cultural na
região: a UFABC e o SESC Santo André. Assim, parece-me que não faltariam
parceiros-colaboradores-participantes, da sociedade civil e das instituições
públicas e privadas, dispostos a construir com o GT de Cultura do Consórcio
Intermunicipal uma política de atuação de caráter mais estruturante.
Nesse
sentido, uma experiência que seria útil o nosso consórcio conhecer é a do
Consórcio Intermunicipal Culturando, que parece que foi constituído em 2011
(informação que não consegui, ainda, confirmar) e reúne 22 municípios do estado
de São Paulo, sendo alguns deles: Araçatuba, Barretos, Jaboticabal e Monte
Alto. Trata-se do primeiro consórcio público exclusivamente voltado para
assuntos de cultura no país e tem como missão “implantar a gestão associada da
cultura nos municípios do interior paulista, com segurança jurídica e menor
burocracia nos acordos federativos com governos federal e do estado de São
Paulo”. Isto quer dizer que se trata de um consórcio que já se prepara para a
realidade em construção do Sistema Nacional de Cultura. Entre as realizações do
Consórcio Culturando estão as parcerias para a construção – em andamento – de
três CEUs das Artes, a modernização de 13 bibliotecas, além de Pontos de
Cultura, Pontos de Leitura e – reparem no caráter estruturante desta iniciativa
– um curso de Extensão Universitária em Gestão Cultural (com foco no Sistema
Municipal de Cultura). Importante ressaltar, também, que a última assembléia de
prefeitos do Consórcio Culturando, realizada em 31 de janeiro deste ano, em
Monte Alto, teve a participação de 500 pessoas.
Neste
momento, em que está em processo a implantação do Sistema Nacional de Cultura e
os municípios têm sua adesão ao sistema condicionada à criação de seus sistemas
municipais, a criação e a implementação de mecanismos de participação da
sociedade no debate dos rumos da cultura é uma das condições fundamentais. Sua
adoção pelo Consórcio Intermunicipal Grande ABC, além de conveniente e, até,
imperiosa neste contexto, evitaria que o GT de Cultura (para ficarmos apenas na
área de cultura) continuasse atuando de modo pontual, eventual e sem diálogo e
sintonia com a complexidade crescente da realidade cultural da região, como
temos visto até agora.
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