Dalila Teles Veras
A
ideia foi gestada no processo. A opção pelo aprofundamento da discussão e
construção de massa crítica, através de debates e palestras, foi a resposta
inteligente do Movimento Cultura Viva Santo André à falta de respostas
institucionais.
Na
contramão de uma política pública de resultados midiáticos e adversidades
impostas de forma proposital, o Movimento optou pelo caminho do pensar e do
debate de ideias sem, contudo, deixar as ações fora desse processo. Foi assim
que artistas, intelectuais, produtores, fruidores e pensadores da cultura,
chegaram à realização da I Conferência Livre de Cultura de Santo André. Os
excelentes resultados, afinal, não surpreendem seus protagonistas, posto que
são fruto de compromisso, seriedade e muito trabalho. Gente que há décadas
milita em diversas frentes do debate e das práticas culturais, cidadãos construtores de processos e acúmulos, aprendem
ao lado de jovens que agregam ao processo outros saberes e habilidades,
próprios de sua geração, como o domínio de tecnologias digitais, juventude
desejosa de seguir e abrir novos caminhos.
O papel das redes sociais e outros meios do universo da comunicação digital foi preponderante na divulgação de todos os passos rumo à realização da Conferência.
O papel das redes sociais e outros meios do universo da comunicação digital foi preponderante na divulgação de todos os passos rumo à realização da Conferência.
E foi
assim que o domingo 9 de junho fez-se epifania, no seu sentido religioso e
profano (celebração-representação). Foi num dia consagrado ao descanso que se
deu o acontecimento do trabalho fraterno de gente incansável que não desiste. Junção
de utopias e sonhos ainda possíveis, verdadeira jornada do trabalho e do
pensar.
Era
escuro ainda o dia quando os trabalhadores da cultura começaram a chegar ao
belo e novíssimo edifício da Universidade Federal do ABC, que entendeu o
chamado da comunidade e abrigou a Conferência, dentro de uma política de
Pró-Extensão de uma Universidade aberta à Comunidade, além dos espaços
necessários (saguão, salas e auditório) outros meios para sua realização.
foto: marcello vittorino
O
fato de ser livre, independente, sem qualquer vínculo com nenhuma espécie de
poder, nada tem a ver com eventual "desorganização". O trabalho foi
árduo e antecedeu em muitos dias e meses a Conferência. Avançou por dias e
noites afora, de forma voluntária e desinteressada. Aquela centena de almas que
ali estavam não visou nenhuma benesse pessoal, muito menos glórias individuais.
Não houve destaque para um nome sequer. Nada de cerimonial nem de autoridades.
Todos eram ao mesmo tempo trabalhadores e autoridades, mestres e alunos em pé
de igualdade, aprendendo um com o outro. Jovens e octogenários
inscrevem-se/escrevem juntos a história e vivenciam um momento único.
Assim,
a Conferência Livre, transcorreu dentro da mais perfeita organização,
alcançando, inclusive, preciosismos de atenção ao detalhe: programas e temas
impressos, pastas e crachás para todos, temário e respectivas salas
identificados por cores. Trabalho voluntário e prazeroso. As ideias em amarelo,
em azul, em verde e em vermelho anotadas é que deram a tônica da insubordinação,
projetando utopias para uma cidade melhor e para todos. Ao lado dos cidadãos
residentes em Santo André, a presença de cidadãos das cidades irmãs que compõem
a região do ABC, irmanados pelo desejo de participar e contribuir com o debate
de ideias.
Já
na mesa de abertura o diagnóstico de uma convidada, Liduína Lins (Consultora
Minc/UNESCO): "Este Movimento qualifica o debate para a Conferência
Municipal de Cultura de Santo André e dá solidez às proposições para um Plano
Municipal de Cultura consistente" ao lado da palavra imprescindível do Mestre
Luís Alberto de Abreu (um dos mais atuantes dramaturgos e roteiristas
brasileiros, nascido e residente na região do Grande ABC: "Temos
a tradição dos sindicatos, que nasceram dos operários, massa crítica histórica
de como a política deve caminhar. A produção cultural não pode ficar dependente
de verbas e do poder econômico. Precisamos ganhar força para essa correlação de
forças. Temos elementos para isso. Somos sociedade civil, destino da nação e
esse destino está ligado a valores."
foto: dalila teles veras
Poesia e música, Rhythm And
Poetry ("estou armado com a palavra, ela é minha
munição") sanduiche natural e café no intervalo, também ajudaram a
alimentar corpos e espíritos. Poucos arredaram pé. Após quase 12 horas de
exaustivo trabalho, a alegria cidadã, o retorno a casa, mochilas carregadas de
utopia e a certeza de que esta é uma jornada em curso sem data para acabar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Se você não tem cadastro no Google, pode deixar seu comentário selecionando a opção Nome/URL no campo Comentar como logo abaixo.