Simone Massenzi Savordelli
Engajada que estou com as questões culturais de nossa região, fui tomada por uma gratificante atribuição em participar do Fórum Permanente de Debates Culturais do Grande ABC, e a engrenagem natural da participação e do afetuoso acolhimento de todos os integrantes da equipe me levou à este lugar escrito.
No ponto de partida veio a dificuldade de “o que escrever” e “como escrever”, sendo uma simples curiosa.
Eis que os pensamentos não descansam e a todo instante os sentidos ficam aguçados em busca de ideias e ideais.Tornei-me pessoa de olhar mais atento e sensível. Os detalhes passam a ter outra importância.
O pensar incessante faz sempre refletir no passado e seguir para o caminho da memória com o relevante questionamento sobre o quanto a preservação da memória pode ser esquecida. A memória esquecida. Um tanto triste.
Falar em preservação da memória remete à lembrança simples de museus, de conjuntos arquitetônicos e monumentos que devem ser mantidos, documentos e registros que precisam ficar bem arquivados, fotos que devem ficar em gavetas e histórias que nunca são contadas.
É um pensamento muito simplista tendo em vista que a memória, assim como a cultura, é um direito do cidadão e faz parte do patrimônio imaterial da sociedade, conforme consta da Constituição Federal, artigo 216: “Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira (...)”.
Todo o conjunto de ações dos nossos antepassados, não só na construção arquitetônica das cidades, mas que difundiram costumes, tradições, expressões culturais e que foram noteadoras da evolução social são fundamentais ao estado da sociedade atual e ao futuro.
Falar em memória é remeter à necessidade da preservação destas ações e de suas consequencias reveladas nas mais variadas formas e nos mais variados meios de expressão e de comunicação. Mas, falar em preservação não significa limitar a consciência simplista de uma sociedade guardiã que abraça e fecha a memória em um grande baú.
A preservação da memória deve visar a publicidade destas ações, deve priorizar a disponibilidade dos bens públicos ao acesso da população, com medidas socioeducativas para o desenvolvimento do cidadão e do pensamento crítico.
Preservar memória não significa manter o “velho” como antigo, mas sim tornar o passado conhecido, atual e uma ferramenta de instrução e de formação. Não pode ter limite na contação da história, a história deve ser um instrumento de saber e de reflexão.
A preservação da memória dentro de uma valoração intangível deve ser transformada em um bem material calcado na origem que estimula não só o senso crítico do cidadão, mas que também possa ser um objeto de transcedência que leve o olhar ao estado de prazer, beleza, contemplação e emoção.
O estímulo dos sentimentos que tocam o intangível deve servir como fundamento para a apropriação da arte, da poesia, da literatura, da música, da dança, da religiosidade e das manifestações folclóricas como expressão material de cultura e como resultado de reflexão e de desenvolvimento educacional.
Inculcar. Repetir várias vezes para gravar no espírito sentimentos de preservação à partir dos lares pela tradição, pela história da própria família, pela importância dos objetos familiares e pela permanência efetiva das sensações que são descobertas com o redescobrir todas as facetas do passado, prestigiando os sonhos, os mitos, o imaginário. Partir do individual para o coletivo em prol do desenvolvimento social.
Preservar para redescobrir. Preservar para tornar conhecido. Preservar para termos onde nos agarrar e para não perdermos a nossa identidade. Preservar para educar.
Para não falar em sentimentos, prefiro falar em memória ativa, aquela que se mantém viva e gera fazer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Se você não tem cadastro no Google, pode deixar seu comentário selecionando a opção Nome/URL no campo Comentar como logo abaixo.