Suzana Cecília Kleeb*
Confraternização da Amusa 2010, foto Rosimara Rampazo
Três de dezembro, o Museu de Santo André Dr. Octaviano Armando Gaiarsa estava em festa e o entardecer de final de primavera expunha uma das faces mais bonitas do prédio construído há quase cem anos: seu pátio interno que, iluminado, aguardava os convidados para a festa de confraternização da Amusa, Associação Amigos do Museu de Santo André. A noite estava bonita e agradável. Amigos chegavam aos poucos e relembravam atividades já desenvolvidas pelo Museu: aberturas de exposições, comemorações e algumas homenagens que fizeram parte dos vinte anos em que ele tem ocupado esse edifício.
Na noite de confraternização, mais uma vez, uma aura tomou conta do lugar. Pessoas conversavam animadamente a luz das velas e desfrutavam da bonita música de Fernando Cavallieri, cantor e compositor, referência nas atividades da AMUSA. Todos aguardavam ansiosamente a paella que era confeccionada naquele exato momento com todo esmero. Eram amigos que prestigiavam esse trabalho em prol da cultura.
Paella, foto Wagner Almeida
A sociedade de Santo André mais uma vez se fez presente nesse lugar que é seu por excelência. Muitos são parceiros do Museu e da Amusa há muitos anos, seja por acompanharem as atividades desenvolvidas por ambos ou por doações de objetos, fotografias, documentos e lembranças. São mãos empenhadas em conservar para sempre a memória pessoal e coletiva dessa cidade que se transforma tão rapidamente. A apropriação das pessoas pelo Museu é lenta, mas duradoura.
A Amusa, constituída por amigos interessados em divulgar o Museu e a memória andreense, atua no sentido de atrair mais pessoas para essa apropriação. São festividades, são passeios, e eventos que buscam trazer novos amigos para junto do Museu. São desafios. Muito há para ser feito para que seus objetivos possam ser alcançados. Mas um caminho é trilhado.
Sonia Ramos, Leila e Aparecida, foto Rosimara Rampazo
Em dias de festa como esses, cabe refletir sobre como deveria ser a vida nesse prédio de passado escolar, antes da instalação do Museu. As fotografias nos desvendam solenidades cívicas; retratos para marcar época. Apresentam-nos grupos de alunas e alunos perfilados junto às escadarias ou mesmo sentados nos bancos do jardim com seus orgulhosos mestres ao lado. Nas primeiras décadas, a escola era para poucos. As crianças se dividiam entre o estudo das primeiras letras e a labuta doméstica ou fabril. Cadernos e livros, guardados com zelo, nos ajudam a compreender esses primeiros anos. Nada era fácil naqueles tempos! A Escola se transformou e atraiu mais alunos. Foram tantos que, com o tempo, não mais cabiam no prédio da Rua Senador Fláquer. A Escola Estadual Professor José Augusto de Azevedo Antunes se mudou para um prédio mais adequado às suas necessidades, no Bairro Casa Branca, no final da década de 1970. Apenas um curto trajeto separa os dois prédios; forma de manter laços de vizinhança.
Família Rizzo, foto Suzana Kleeb
Ainda hoje recebemos ex-estudantes em busca nostalgia, por vezes empalidecida, de seus dias de infância. Ali, como em um passe de mágica, recordam de seus professores, de amigos que escaparam de sua teia de amizades futuras. Fica evidente a passagem do tempo! Faz-se, no presente, uma mistura de alegria e satisfação pela lembrança e a expectativa pelo futuro desconhecido. Esses sentimentos compõem a alma da memória e é parte do arcabouço de trabalho do Museu.
Museus não representam o passado por si só. Este, transplantado de outros tempos, talvez fique melhor em antiquários. Museu é vida presente, local por excelência onde o passado, enquanto referência de cultura, e o futuro, desejado, se comunicam. A cada dia que o Museu de Santo André se abre para seus visitantes, esse elo de comunicação e conhecimento se faz presente: seja em atividades especiais como a confraternização da Amusa, na montagem de exposições, nos ciclos de palestras e encontros de pesquisadores, no trabalho cotidiano da biblioteca e das visitas mediadas a grupos ou no trabalho de recuperação e pesquisa de detalhes da memória de Santo André. Trabalho técnico, sem dúvida, mas que não viceja se os atores sociais não estiveram ali, colados a ele.
Em um momento de confraternização tão bonito como o que passou, não há como não pensar nos desafios dessa empreita e desejar que todos possam, a exemplo de Carlos Drummond de Andrade, abrir os “... olhos gulosos a um sol diferente que nos acorda para os descobrimentos.” Provavelmente umas das magias de lugares como museus reside exatamente na descoberta de que a memória e a história são inerentes a nosso ser. Esta percepção, certamente, nos faz diferentes. E, o momento de reflexão de final de ano, pode ser um bom momento para se pensar a esse respeito.
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