o lugar escrito: MEMÓRIA DA REUNIÃO MENSAL DO FÓRUM PERMANENTE DE DEBATES CULTURAIS

Dalila Teles Veras

A reunião mensal do mês de outubro foi festiva. O Fórum Permanente de Debates Culturais, que no próximo mês completará 3 anos de atuação ininterrupta, entra em nova fase e coloca na rede mundial de computadores este blog, um lugar para o debate das questões da cultura.

A seguir, a transcrição de alguns trechos de falas dos presentes à reunião, vozes dissonantes a formar um vigoroso coro:

Dalila Teles Veras (apresentando o blog) – Nada, como se sabe, nasce por acaso. O Fórum é fruto de vontades e ações que remontam a décadas. Vontades que remontam ao GIPEM – Grupo Independente dos Pesquisadores da Memória, grupo que chegou a reunir mais de 100 pesquisadores da memória local e que exerceu, com eficiência, pressões junto às Prefeituras dos 7 municípios, no sentido da preservação da memória local. Este grupo participou e ajudou a organizar o I Congresso de História, em 1990, do qual muitos dos aqui presentes participaram e participam ativamente. Este Congresso, que possui características únicas, como o fato de reunir pesquisadores espontâneos e acadêmicos, talvez seja o único caso conhecido de Congresso que se mantém há tanto tempo de forma ininterrupta. No próximo ano será realizado em Diadema, pela 11ª vez em 20 anos.

Os ciclos, encontros e discussões realizados ao longo dos últimos 18 anos na Livraria Alpharrabio, bem como outros tantos grupos, em espaços e lugares os mais diversos. Agora, as discussões das reuniões mensais presenciais do Fórum ficam ampliadas graças à criação do blog O lugar escrito, título sugerido pelo Júlio Mendonça, dentre muitos outros sugeridos, escolhido através de votação pelos membros da equipe responsável. Importante lembrar que a importância e o novo alcance do blog não invalidam nem prescindem das reuniões presenciais, do contato pessoal, da troca, da conversa, do olho-no-olho, para o que foi idealizada a Livraria Alpharrabio e, posteriormente, o próprio Fórum.

Antonio Possidonio Sampaio – Este é certamente um novo momento na cultura do Grande ABC, porque a contar com aquilo que se lê na mídia regional, fica a idéia da cultura apenas como um viés de lazer. A política em movimento é desqualificada. Isso nega os valores republicanos. A política é aquela que visa transformações. Nós também não temos crítica de arte na região. A divulgação só não basta. Nós temos que questionar isso. Com o blog, a política dialogará com a cultura e outras formas de expressão como transversalidade.

Neusa Borges – As discussões sempre foram prazerosas e enriquecedoras, mas agora isso se amplia. O que é muito legal é que vamos mostrar que cultura não é só a artística, mas também a cultura como algo transformador. É preciso mostrar os saberes e fazeres, a riqueza da região.

Claudete Sarapu – A cultura que me interessa neste momento é a da vida do Planeta. Sou militante do meio ambiente.

Hildebrando Pafundi – O lugar escrito é o lugar onde se vai falar

Júlio Mendonça – Trabalho e moro no ABC há 19 anos. Como trabalhador na área da cultura fui conhecer essa riqueza destas nossas cidades tão próximas, essa necessidade de espaços, mas, sobretudo, essa força que existe aqui, desde o GIPEM e o Congresso de História, citados por Dalila, que são realmente marcantes. A palavra resistência tem um caráter, por vezes, belicoso, mas eu gostaria de me referir a resistências amorosas, desarmadas, como o grupo de estudos que por mais de um ano se encontrou na UMESP, A Jornada ABCDMaior, o Fórum e agora o blog... O importante disso tudo é que sabermos que é difícil, mas é possível, O Sr. Marotti, o GIPEM, a permanência do Alpharrabio, do Congresso, mostram que é possível.

Zé Campelo – Quero debater tocando e fazendo poesia.

Simone Massenzi Savordelli – Como representante do acervo dos netos de Pierino Massenzi, acabei me envolvendo com as questões e o debate cultural. Poderia ser mais cômodo de minha parte, fazer coisas só em prol do acervo, mas eu prefiro ir além com o envolvimento social, em memória do meu avó que era polêmico e gostava do debate. Entendo o blog como uma forma de registro das ideias e debates “falados” uma vez que a “palavra escrita” permanece.

Marcelo Dino Fraccaro – Sou morador do ABC há 4 anos. A minha inserção na cultura se deu através do Ministério da Cultura e me interessa essa discussão das políticas públicas. Foi interessante ter acompanhado este momento rico do Fórum. O blog vai contribuir para que esse momento se reforce. É um privilégio a região contar com este Fórum.

Penélope Martins – A minha experiência com o projeto Construindo Leitores durante o longo do último ano no Alpharrabio aponta que este é o caminho: compartilhar.

Cristina Suzuki – Nas discussões sobre artes visuais, descobri este meu lado de provocadora que desejo exercer.

Edmundo Epifanio Dias – Acompanho o Fórum desde o início e o blog juntará mais gente sobre um assunto que não é reconhecido pelo poder público, a cultura.

Edir Linhares – Como ouvinte e narrador na área da memória e da dramaturgia, entendo arte como expressão da cultura e a cultura que atua e vive na população. Nisso o blog e o Fórum são da maior importância.

Luiz Marotti – Nasci na Marechal, há 79 anos. Ao longo da minha vida sempre estive envolvido com festas populares, como a procissão dos carroceiros, onde comecei minhas participação aos 9 anos de idade, bem como as festas juninas da Alameda Glória, a quadrilha mais antiga da região é a da Alameda Glória...

Rubens R. Placidino (Rubinho) – Eu milito na área da saúde, mas saúde também é cultura e me relacionar com estas pessoas de vários segmentos é muito importante. Saber de meninos que fazem o samba na região do ABC que, após usufruírem de alguns espaços aqui, precisam ir para fora do município para fazer o seu trabalho. É preciso inverter essa situação. Temos músicos, teatrólogos, etc. Temos que usar este blog para isso.

José Milton dos Santos – Sou apaixonado por cinema e faço cinema. Cinema do povo para o povo. O meu documentário Vila São Pedro será lançado na comunidade no dia 4 dezembro.

Everton da Silva – o hip-hop e o grafite precisam trocar informações com vocês. A juventude, a minha geração, precisa correr atrás das pessoas que estão dispersas. O blog é importante para deixar para o futuro o que acontece hoje.

Ditinho da Congada – (justificando o atraso por problemas de saúde em família) - Quando se chega atrasado a uma festa a gente pergunta se já cortaram o bolo. Como não sei o que foi dito aqui, quero dizer apenas que o povo não precisa de heróis, precisa disto.

Cabe ainda registrar a presença dos repórteres Marina Bastos e Luciano Vicioni do jornal ABCDMAIOR, que foram cobrir o evento e o publicaram naquela mesma noite (leia).

Resta agora esperar que toda essa gente (e muitos mais que vierem) continue entusiasmada e participativa, escrevendo o mundo, a partir da cidade e da região em que vivemos.